terça-feira, 28 de junho de 2011

Quem bate a sua porta?

  
   A noite chegou fria ontem, fazia uns 8º. Deitada, inquieta sob o cobertor. A cabeça a mil. Idéias e ideais. Sonhos acesos e gritos mudos. Estava sozinha e não só. Eu comigo mesma. Tinha a companhia dos meus pensamentos. O zunido do vento me deixava aflita, a luz a todo momento pulsava. Foi confuso pra mim também... Uma velha senhora bateu a minha porta, tarde da noite. Insistia que eu abrisse. Vê-la trazendo aquelas flores de sangue nas mãos calejadas não foi fácil. A cada passo dela, um pulsar mais forte em meu coração. Imperdoável. Indescritivel. Inigualavel. Sua garganta parecia pular, tinha sede, e implorava por ajuda, sem nada dizer. Perguntei se desejava um copo d'agua, chacoalhou tanto a cabeça em sinal afirmativo que se abaixou em meus pés, zonza. Tomou a agua como se estivesse comendo um sanduíche farto. Chorava tanto que se engasgava no proprio soluço. Tinha sede. Ainda com sede. Agua não saciava. Tinha fome. Sentia dor. As rosas, ainda vivas, traziam em cada pétala um gesto de amor, de sofrimento, de perdão. Notei seus labios roxos, cobertos de rachaduras. Tinha cabelos brancos mais que a neve, vestes delicadas, ainda que sujas. Busquei um cobertor quente e um prato de comida. Agasalhei a pobre senhora e a tomei em meus braços dizendo que ia ficar tudo bem. Ela nada dizia, só me olhava como se me devorasse com os olhos, olhos de esmeralda, brilhavam ao longe... Tive pena daquela pobre senhora, não podia recusar ajuda, ela precisava de mim. Deixei o medo de lado, a ignorancia e fui, de corpo, alma e coração. Minutos depois, já certa que a senhora nao me faria mal algum, perguntei seu nome e convidei-a para entrar, ela sorriu, como se toda sua dor tivesse ido embora, tomou-me pelos braços, entregou-me uma rosa e disse: " Agora está tudo bem, eu vou morar com você."
... Ao dizer essas palavras, seu corpo se desfez junto a neblina, restando apenas uma rosa e uma lagrima em meus olhos. Esse foi um dia muito importante. Um dia em que eu decidi deixar o orgulho de lado e ser solidária, aprendendo muitas lições. Obrigada, por bater a minha porta, senhora Felicidade.